Os mais atentos devem ter reparado que as previsões em Abril têm mudado e falhado com uma frequência acima do normal. A situação meteorológica que temos vivido e que continuaremos a viver durante este mês é propícia a que isso aconteça.
É frequente ser assim na Primavera, mas este ano conjugaram-se vários fatores que provocam alterações frequentes com muita facilidade. Vou tentar explicar que fatores contribuem para esta situação.
Vivemos numa zona temperada onde as variações da pressão atmosférica são acentuadas e frequentes, ao contrário das zonas tropicais onde são diminutas.
Abaixo dos 1013 milibares consideramos baixa pressão e acima deste valor alta pressão.
As baixas pressões trazem o chamado mau tempo, com nuvens e precipitação, as altas pressões o chamado bom tempo, com muito sol e poucas nuvens.
Quanto mais descer a pressão pior será o tempo, quanto mais subir melhor será a situação meteorológica. Uma boa depressão deve baixar dos 1000 milibares e uma boa alta pressão deve situar-se acima dos 1020 milibares.
As previsões em Abril têm indicado, e continuam a indicar, valores de pressão entre os 1010 e os 1015 milibares na maioria dos dias.
Como são valores na fronteira entre a alta e a baixa pressão, qualquer pequena variação pode provocar alterações importantes no estado do tempo.
Isto é, pode estar previsto um dia com sol, mas se a pressão baixar ligeiramente podemos mudar para um dia muito nublado.
Nestes dias de pântano barométrico temos que aceitar a possibilidade de falhanço das previsões, ou pelo menos mudanças frequentes das previsões anteriores.
Este não é o único fator a ter em consideração, a pressão é um pormenor importante mas não é o único.
A curva de estado é a linha que une os pontos que nos indicam as temperaturas em altitude num determinado dia e a uma determinada hora.
Para os fenómenos meteorológicos interessa-nos saber as temperaturas entre a superfície e os 12000 metros de altitude.
Quando a temperatura desce a uma razão superior a 6 ºC por cada 1000 metros temos tempo instável com formação de muitas nuvens.
Quando desce a uma razão inferior, nem que seja apenas de forma parcial, dizemos que há uma inversão térmica que impede o ar de subir, logo arrefecer, logo formar nuvens.
Temos tido poucas inversões térmicas, ou bastante fracas, pelo que a formação de nuvens com desenvolvimento vertical tem sido frequente.
Nesta época do ano é normal ainda haver bastante ar frio em altitude e o aumento das temperaturas à superfície devido às muitas horas de sol, provocam fenómenos de convecção com facilidade.
Muita convecção pode dar origem a nuvens com desenvolvimento vertical que são as responsáveis pelos aguaceiros que por vezes são acompanhados por trovoada.
Até ao final de Maio a curva de estado tem poucas inversões térmicas e nos dias em que houver mais frio em altitude podem ocorrer aguaceiros tipo trovoada.
Previsões de muita convecção e possíveis trovoadas só são fiáveis em previsões de curto prazo e curta escala.
Um dos resultados do pântano barométrico é a existência de pouco vento devido à pequena variação da pressão numa vasta região.
Os ventos fracos de direções variáveis provocam linhas de confluência que ajudam à instabilidade e à formação de nuvens por convecção.
Por vezes essas linhas fazem com que chova com regularidade numa região e escassas dezenas de quilómetros ao lado não chova absolutamente nada.
As previsões em Abril indicam muitas confluências entre ventos de Leste e Oeste que ajudam à formação de linhas de instabilidade que provocam bastante chuva nuns locais e pouca em outros.
Resumidamente nesta Primavera temos pouca variação na pressão atmosférica, curvas de estado instáveis e pouco vento a facilitar a formação de linhas de confluência instável.
Com estas condições é normal as previsões mudarem com muita frequência.
Pode ver os pormenores das previsões para os próximos dias na página previsão geral do tempo.
Teremos sol no fim de semana e bastantes nuvens no inicio da próxima semana. Se as previsões não falharem, claro.
Foto de Manuel Ferreira