Algumas indicações de como se efectua o cálculo da cota da neve e quais os factores a ter em consideração: temperatura à superfície, temperatura a 850 hPa, pressão atmosférica, espessura de camada e temperatura a 500 hPa, temperatura de condensação (ponto de orvalho) às várias altitudes, quantidade de precipitação, instabilidade atmosférica.
A maioria das pessoas e particularmente os seguidores das minhas previsões gostam muito de neve e precisam de saber quando se podem deliciar a ver nevar ou a fazer actividades desportivas invernais. Para isso a informação da cota da neve (altitude a partir da qual pode nevar nos dias com precipitação) é crucial.
São muitos os factores meteorológicos que influenciam a altitude a que neva e a altitude a que acumula, todos relacionados com a temperatura do ar e do ponto de orvalho (temperatura de condensação). Quando são ambas negativas é óbvio que a precipitação será em forma de neve e acumula no solo com facilidade.
O que baralha tudo é o facto de poder nevar também com temperaturas ligeiramente positivas à superfície, até 3 ºC. Isso depende do frio em altitude e da altura das nuvens, quanto mais frio houver aos 500 hPa, acima dos 5000 metros de altitude maiores são as possibilidades de nevar com temperaturas positivas à superfície. Quando isso acontece e o ar à superfície é seco , o que significa que a temperatura de condensação (ponto do orvalho ou dew point em inglês) é negativa, aumentam significativamente as possibilidades de nevar abaixo da isotérmica dos 0 ºC. Nestes casos para a neve acumular tem que cair uma quantidade muito significativa que vai fazer com que a temperatura acabe por baixar no solo.
Para consultar todas as variações das duas temperaturas em altitude só há um instrumento eficaz, o tefigrama.
As cartas meteorológicas só nos dão esses dados muito parcialmente, em 3 altitudes, ou valores de pressão: superfície, 850 hPa e 500 hPa. Pelo meio temos mais 5000 metros sem informação.
Fazer previsões só com cartas meteorológicas é como comprar um melão e tentar adivinhar o que lá vai pelo meio. Usar tefigramas é como partir o melão às talhadas e poder prová-lo, mas mesmo assim às vezes ainda ficamos com dúvidas se é tão bom como nós gostaríamos.
Habitualmente as cotas divulgadas pelos organismos oficiais de previsão são mais baixas do que depois acaba por se verificar, isto é, o melão parece bom mas a maior parte das vezes não o vemos e ficamos nós, os amantes da neve, com o melão.
Factores favoráveis à queda de neve em cotas mais baixas: pressão atmosférica baixa, menos de 1010 mb (hPa) quanto mais baixa melhor pois aumenta a instabilidade e consequentemente as possibilidades de precipitação. A altitude a que encontramos os 850 mb (hPa) e os 500 mb (hPa) também desce com a pressão.
Ponto de orvalho negativo à superfície significa ar mais seco a ajudar a conservar a neve podendo nevar com temperaturas ligeiramente positivas. Toda a gente sabe que com nevoeiro só neva com temperaturas negativas.
Espessura de camada até aos 500 hPa abaixo dos 5400 metros, quanto mais baixa melhor e quanto mais frio melhor, – 30 ºC a 5200 mertros são o ideal para nevar abaixo dos 1000 metros.
Temperaturas negativas a 850 hPa (mais ou menos 1400 m de altitude que variam com a pressão). Quando a temperatura está abaixo dos -4 ºC a essa altitude a neve cai abaixo dos 1000 m com facilidade.
Tenho noção que as pessoas acreditam muito nas minhas previsões de cota de neve, vou manter a metodologia embora seja muito trabalhosa, para elaborar todas as previsões vejo cerca de mil tefigramas por dia.
Normalmente dou cota de acumulação com base na isotérmica 0 ºC e um pouco abaixo quando o ponto de orvalho é negativo conjugado com muita quantidade de precipitação e quando há muito frio a 500 hPa. Muitas vezes tenho dúvidas que espero consiga fazer chegar aos seguidores distinguindo o que me parece certo do que me parece apenas provável.
Já sabem, comigo as surpresas serão mais pela positiva que é nevar mais baixo do que indico. Obviamente vão aparecer também alguns dias em que a minha previsão de neve falha, quando a precipitação é pouca e as temperaturas no limite é muito fácil isso acontecer.
Alguns tefigramas de nevões em cotas baixas: