Estamos com uma forte inversão térmica nos níveis baixos da troposfera, que é fruto da estabilidade criada por um potente anticiclone situado nas nossas latitudes.
O resultado mais visível desta situação meteorológica é o frio e nevoeiro nos vales ou zonas baixas, algum calor com muito sol nas montanhas ou zonas mais altas.
Esta situação pode tornar-se duradoura pois o anticiclone no Atlântico pode chegar aos 1050 milibares e em Portugal podemos chegar aos 1035 milibares.
São valores de pressão ao nível médio das águas do mar muito elevados que fazem com que o anticiclone demore a desaparecer e potencie a inversão térmica.
Normalmente a temperatura desce com a altitude 9,8 ºC por cada 1.000 metros de altitude com ar seco e cerca de 6 ºC quando há condensação e formação de nuvens.
Com estas condições o ar que é aquecido à superfície tem condições para subir livremente até às capas altas da troposfera.
Se fosse sempre assim a chuva e as tempestades eram permanentes e a terra inabitável.
Quando em determinadas zonas a temperatura não desce com a altitude à média de pelo menos 0,6 ºC por cada 100 metros dizemos que há uma inversão térmica.
Dito de outra forma, sempre que o ar mais quente não tem condições para elevar-se livremente é porque há uma inversão térmica que impede a sua ascensão.
Nos dias em que não há inversões até aos 10.000 metros de altitude a trovoada e os aguaceiros são garantidos.
A altitude a que se encontram as inversões é o que define o aspeto que vai ter o céu em termos de nebulosidade.
No caso concreto dos próximos dias as nuvens ficam quase no chão pois a inversão está bem abaixo dos 1.000 metros de altitude e é tão marcada que temos ar muito mais quente acima dessa altitude do que à superfície.
As inversões nos níveis baixos são frequentes durante as noites e dão origem à famosa neblina matinal.
No Verão o aquecimento provocado pelo sol é tão importante que essas inversões desaparecem com facilidade, mas agora no Inverno tendem a manter-se durante o dia pois a acção do sol é mais ténue.
Na maioria dos dias as inversões mais importantes situam-se entre os 2.000 e os 3.000 metros de altitude, mas podem verificar-se a altitudes muito variadas.
Relembro que os dias instáveis não têm inversões térmicas até aos 10.000 metros. Há baixa pressão, nuvens com desenvolvimento vertical e possibilidade de trovoada.
Quando se diz que um dia é estável significa que temos inversão térmica forte nas capas baixas da troposfera. Haverá anticiclone e poucas nuvens no céu mas algumas junto ao chão.
É caso para dizer que se não soubermos a que altitude se encontram as inversões térmicas dificilmente fazemos uma boa previsão de nebulosidade.
É no tefigrama que podemos ver com facilidade a localização das inversões térmicas. Deixo a seguir o de hoje para as coordenadas da Guarda.
Podemos ver que a temperatura mais elevada às 6 h da manhã estava prevista para os 2.000 de altitude e eram cerca de 10 ºC. O ponto de orvalho à superfície ronda os -3 ºC , por isso tanto gelo onde há nevoeiro.
A situação atual pode durar mais alguns dias. Se chega até ao fim do ano ou não ainda não tenho a certeza, mas na época do Natal o cenário vai ser o mesmo.
Sol nas montanhas e zonas altas, nevoeiro ou geada nos vales e zonas baixas na maioria dos dias.
A região com mais nevoeiro é o Nordeste Transmontano e a Beira Alta.
O frio da meseta Norte da Península Ibérica é empurrado pelo vento Leste através do vale do Douro e dos seus afluentes para estas regiões.
As montanhas do sistema Central, a Serra da Estrela, Montemuro e Marão fazem um muro que segura o ar frio como quem segura água numa barragem.
Ao fim de alguns dias o nevoeiro torna-se persistente e dá lugar à formação de sincelo.
Só com a chegada de ar frio em altitude associado a alguma depressão e ventos de componente Oeste, se consegue remover este ar frio estacionado.
Quarta-feira passa uma frente em fase de oclusão que pode deixar precipitação ou não. Se ocorrerem alguns aguaceiros serão de fraca duração.
A partir de Quinta-feira o anticiclone retoma a sua posição e voltamos ao sol nas montanhas e nevoeiro nos vales.
Se quer apanhar tempo mais quente vá passear para as zonas altas da Serra da Estrela. Parece mentira, mas é na verdade das zonas mais quentes do país, pelo menos durante a noite.
As previsões para o período entre o Natal e o fim do ano ainda mudam com muita facilidade, ora dão chuva com neve nas montanhas, ora dão a continuação do anticiclone e o tempo atual.
Temos que aguardar com tranquilidade que se definam melhor.
Foto de Manuel Ferreira